domingo, 22 de novembro de 2015

Da série "Ensino Universitário do Brasil"

Primeira atividade de finanças empresariais e o tutor aborda o seguinte tema:
Olá estudante,
Antes de começarmos os estudos, convidamos você a refletir sobre sua experiência profissional, e pessoal, e a construir, coletivamente, o conhecimento com os demais colegas.
Para participar deste fórum aconselhamos, em primeiro lugar, que assista ao vídeo abaixo. Após a visualização, compartilhe suas ideia e opinião sobre o tema proposto.
Todos estamos cientes da crise econômica ao qual passamos atualmente. Muitos de nós teremos de nos adaptar ao novo cenário ao qual vivemos, reajustando nosso padrão de vida e de consumo. O vídeo “Atualidades - Crise Econômica no Brasil" (Stoodi) está explanando esta situação e demonstrando como a crise está afetando o momento da compra e do gasto de nossos valores mensais.
Outro ponto ao qual está sendo evidenciado devido a esta crise, fica por conta da maior parte das famílias de classe C (classe que era considerada a maior consumidora do país, mas hoje está fora destas considerações), que para manterem os hábitos e padrões de consumo, alguns dos membros, quando não todos, acabam trabalhando em 02 empregos e buscam “bicos” aos finais de semana para suprirem as necessidades familiares mensais, porém ficando mais facilmente ligados a problemas de saúde e estresse devido ao excesso de trabalho, sem momentos muito específicos ao lazer e à família.
De acordo com o que foi descrito acima e apontado no vídeo, como agir no momento em que vivenciamos tal crise? Veja as duas propostas abaixo e dê sua opinião:
  1. Você acha que deve manter o seu padrão de vida, buscando novas formas de aumentar a sua renda, mesmo que isso faça com que você trabalhe mais de 60 horas por semana?
  2. Ou você prefere reduzir o seu padrão atual (consumo e hábitos), mantendo seu salário e carga horária da forma como se encontram?
E essa foi a minha resposta:
"Antes de colocar minha opinão a respeito do dilema proposto na atividade gostaria de atentar para algumas visões que, ao meu ver, são equivocadas e que foram descritas no material complementar apresentado na atividade.
O professor começa dizendo que somos um país rico, apoiando-se no dado mais recente que ele possuía para confirmar sua tese. Apesar de na ocasião ocuparmos o 7º PIB mundial, um dado importantíssimo foi deixado de lado, o PIB per capita. Devido à dimensão territorial do Brasil, é de se esperar que tenhamos um PIB elevado se comparado à países demográfica e territorialmente menores. Mas quando trazemos esses números para uma mensuração do que cada indivídio do país produz, caímos pra 61º posição, segundo informações de 2013 do mesmo FMI. A mesma explicação se dá ao compararmos nossa força de trabalho com países que possuem metade da nossa população. Dizer que temos uma das maiores forças de trabalho do mundo é uma obviedade se levarmos em conta a população do país, porém ao compararmos a PEA (população economicamente ativa) do Brasil com a média dos demais países, o número está bem abaixo. 46,7% da população brasileira é economicamente ativa, onde em diversas outras nações esse número chega a 75%. Isso sem nem entrar no mérito da metodologia adotada pelo IBGE e IPEA que nem sempre revelam imparcialidade e, consequentemente, confiabilidade.
Atribuir a recuperação da crise americana à "capacidade de emitir dólares" é no mínimo leviano. Qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento em economia sabe que isso gera apenas desvalorização da moeda e, consequentemente, alta da inflação. Da mesma forma é extremamente simplista e, volto a dizer, leviano, dizer que as "crises" são simples fatores estruturais do capitalismo, o que é muito diferente de falar sobre ciclos economicos, que são uma realidade do sistema economico keynesiano adotado no mundo, e não do capitalismo. Da mesma forma o professor usou o exemplo da "crise de 99" para elucidar seu disparate, quando a principal causa para a desvalorização do Real nessa época (que estava sobrevalorizado) foi a mudança da política de câmbio semi-fixo para a política de câmbio flutuante, e não uma simples crises estrutural do capilatismo. 
Atribuir também a desigualdade social ao regime escravocata brasileiro é, no mínimo, um erro. A escravatura foi adotada em praticamente todos os países em meados do séulo 17 e nem por isso tivemos uma desigualdade tão acentuada em outros países. Claro que é um fator que contribuiu, mas não é a sua única causa. 
Mas a cereja do bolo foi afirmar que a mídia é que gostava de dizer que a carga tributária brasileira não é o principal fator pra falta de competitividade no mercado externo pois países europeus tinham cargas tributárias muito mais elevadas que a nossa e ainda dizer que o lucro das empresas, em especial as exportadoras de tecnologia multinacionais, era o vilão da história. Oras, pra que serve uma empresa senão para a obtenção de lucros mediante o fornecimento de um produto ou serviço julgado necessário para o mercado? Entramos aqui, mais uma vez, no "mito escandinavo" da carga tributária. Deixo a vocês um link de um texto explicativo para não me alongar ainda mais: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2161. 
No mais, creio que o dilema entre perder seu poder de compra versus  trabalhar mais e ter menos tempo cabe a cada um. Alguns tem imenso prazer em trabalhar, outros em poder possuir coisas que facilitam suas vidas. Tudo é uma questão da percepção do que é qualidade de vida e de onde está o seu prazer. Claro que se estivermos falando sobre o que é melhor para o país, diminuir a produção e, consequentemente, o ganho e resfriar ainda mais o mercado consumidor, é péssimo, mas cabe a cada um fazer sua escolha de acordo com aquilo que prioriza na vida. Para mim, que não tenho filhos, passar meu tempo trabalhando é um prazer, porém se os tivesse minhas prioridades mudariam. Ou talvez ainda eu sentisse que não tivesse escolha por necessitar arcar com os gastos pertinentes à eles, como educação e alimentação, e optasse por aumentar minha renda. De qualquer forma, dar passos para trás é algo terrível, e infelizmente as políticas economicas adotadas ultimamente somadas aos escândalos de corrupção e aos gastos públicos elevadíssimos fazem com que tenhamos que fazer esse tipo de escolha ao invés de evoluirmos."

terça-feira, 21 de julho de 2015

A Relativização Da Liberdade De Expressão

Muitas são as opiniões acerca da liberdade de expressão e em tempos de efervescência das redes sociais, é possível notar uma crescente tendência à relativização de um direito que, ao meu ver, deveria ser um direito ABSOLUTO.
O inciso IX do artigo 5º da Constituição Federal de 1988 (CF/88) assegura, no Brasil, a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação. Mas dentre outras leis magnas de diversos outros países, a que mais se destaca em relação à proteção de direitos fundamentais - como o direito à liberdade de expressão - é a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos. Por ser uma constituição garantia, visa proteger as liberdades individuais e limitar o poder do Estado, preservando o cidadão de possíveis interferências do poder governamental e legislativo, diferentemente de nossa constituição, cheias de normas pragmáticas que dão margem para que o legislativo relativize tais direitos fundamentais. Mas não me atenho aqui às questões legais do direito à livre expressão, e sim às questões culturais que levam as pessoas, num geral, a flertarem com os perigos de ter tolhido um direito tão essencial quanto o direito à vida e à propriedade.
Ainda no artigo 5º, inciso VI, da CF/88, podemos encontrar o seguinte texto: "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;" e encontro nele o gancho perfeito para iniciar um questionamento a respeito da comoção e revolta exacerbada em relação a opinião de diversos líderes políticos que compõe a crescente bancada religiosa brasileira.
Por mais que eu discorde veementemente da visão de personalidades políticas eminentes como as do Pastor Silas Malafaia, ou até mesmo das do autor do famigerado discurso sobre orifícios anais, Levy Fidelix, defendo em absoluto seu direito à liberdade de verbalizarem suas opiniões a respeito de quem quer que seja.
É imprescindível que haja a consciência de que, ao abrir precedente para calar uma voz que profere uma opinião divergente, damos margem para a impossibilidade de impedir, futuramente, que a próxima voz a ser calada seja a sua, seja ela sobre assuntos banais como pôneis ou sobre temas importantes como as formas de se conduzir um governo. Relativizar a liberdade de expressão definitivamente não é o caminho para que vivamos numa sociedade pacífica e respeitosa. Nenhuma espécie de absolutismo - especialmente o que envolve opiniões - pode ser benéfica para a sociedade. Pagar intolerância com intolerância não parece uma solução muito eficaz.
A preocupação com a opinião alheia toma níveis alarmantes quando o debate não mais se estende sobre concordar ou discordar de uma opinião, mas sim se devemos calá-la ou não. E atente que esse discurso é, contraditoriamente, defendido por aqueles que tão abertamente condenam a censura em seus discursos. Parece-me que a relativização da liberdade de expressão só beneficia aqueles que possuem uma alocução cheia de boas intenções, mas que intentam, na verdade, dizimar a discordância de valores e crenças que faz da humanidade esse organismo em constante evolução.